Características e Defeitos

Os problemas começam quando tentamos modificar a pessoa com quem nos casamos.

A transparência é uma necessidade psicológica básica do ser humano. A dissimulação, a representação e a mentira enfraquecem o caráter e destroem a paz interior. Ser transparente é, portanto, condição básica para o nosso aperfeiçoamento como pessoa.

No casamento a transparência aprofunda a comunhão entre o casal e aperfeiçoa o seu caráter. E isto fortalece o compromisso e o amor que os une. Por isso, marido e mulher precisam ser - um para o outro - um livro aberto. Entre eles jamais deve existir segredos, omissões, dissimulações. Para isto, é necessário amor, aceitação e respeito mútuo. Pois o ser humano só é transparente quando sabe que continuará sendo amado e aceito, apesar de suas imperfeições.

Mas, quando somos transparentes, nós nos revelamos ao outro. Um passa a conhecer as opiniões, expectativas, ideias, bem como as fraquezas e os erros do outro. Daí surge a necessidade de saber distinguir características e defeitos.

Diferença Entre Características e Defeitos Muitas vezes confundimos características e defeitos. Mas são duas coisas diferentes.

Se recorrermos a um dicionário, encontraremos a informação de que característica é aquilo que caracteriza ou que distingue, o que faz diferente dos outros, qualidade individualizante; e defeito é deformidade, imperfeição, vício, desvio de caráter.

Vamos dar alguns exemplos: Jacó era homem pacato (Gênesis 25.27) e enganador (Gênesis 27.36). Pacato descreve uma característica de Jacó; e enganador, um defeito. Moisés era um homem sanguinário (Êxodo 2.11,12), que foi transformado por Deus em um varão mui manso (Números 12.3). Sanguinário descreve um defeito de Moisés; manso, uma característica.

A característica é uma qualidade da pessoa que a faz diferente das outras.

No primeiro exemplo citado, pacato é a característica de Jacó que o fazia diferente de seu irmão Esaú. No segundo exemplo, manso é a característica que fazia Moisés diferente de todos os homens de sua época.

O defeito é uma imperfeição, um desvio de caráter, uma deformidade, um vício. Nos dois exemplos citados, enganador e sanguinário são defeitos de Jacó e Moisés.

Por ser enganador, Jacó ludibriou seu pai e seu irmão. Por ser sanguinário, Moisés matou um egípcio.

Para facilitar a distinção entre características e defeitos podemos dizer que as características são qualidades positivas ou negativas com que nascemos ou que
aprendemos no meio onde vivemos; e os defeitos são imperfeições ou vícios que
adquirimos no meio onde vivemos. As características, mesmo quando negativas, não são maldosas; mas os defeitos são dolosos, isto é, eles têm um forte
componente de maldade, de má-fé, mesmo que a pessoa não tenha nítida consciência disso.

A Valorização das Características

Um dos objetivos do casamento é complementar os cônjuges. John e Betty Drescher observaram o seguinte: "Decidimos casar com alguém em vista de quem apreciamos e que complementam os nossos.

Embora talvez nunca pensemos conscientemente nisso, temos a tendência de escolher um companheiro para a vida que tenha habilidades e temperamento oposto aos nossos porque precisamos exatamente daquilo que não possuímos. A pessoa falante se casa com um indivíduo calado; o extrovertido com o introvertido; o pontual com aquele que nunca chega a tempo a lugar algum; quem gosta de deitar-se e levantar-se cedo se casa com quem dorme tarde e acha difícil levantar cedo; a pessoa meticulosa quanto aos detalhes casa com quem se interessa por generalidades; a pessoa prática, com a sentimental; o realista se casa com um sonhador; aquele que gosta de analisar tudo se casa com quem se precipita nas coisas sem pensar antes. Poderíamos prosseguir dando exemplos de como escolhemos nossos cônjuges com traços completamente opostos.

Por quê? Por sermos fracos onde o outro é forte. Escolhemos casar-nos com alguém que possua qualidades que nos faltam e que admiramos".1

Os problemas começam quando tentamos modificar a pessoa com quem nos casamos. E às vezes começamos a nossa tentativa de mudança exatamente nas características que mais nos atraíram naquela pessoa. E "toda vez que tentarmos mudar um ao outro vão surgir conflitos: hostilidade, ressentimento e reação".2

A verdade é que necessitamos de um cônjuge diferente de nós para nos complementar.

Quando o servo de Abraão foi buscar esposa para o filho do seu senhor, ele parou junto a um poço, nas proximidades da cidade de Naor, e fez a seguinte oração: "Ó SENHOR, Deus de meu Senhor Abraão, rogo-te que me acudas hoje e uses de bondade para com o meu senhor Abraão! Eis que estou ao pé da fonte de água, e as filhas dos homens desta cidade saem para tirar água; dá-me, pois, que a moça a quem eu disser: Inclina o cântaro para que eu beba; e ela me responder: Bebe, e darei ainda de beber aos teus camelos, seja a que designaste para o teu servo Isaque; e nisso verei que usaste de bondade para com meu senhor" (Gênesis 24.12-14). O que o servo estava pedindo é que Deus lhe enviasse uma moça dinâmica, de bastante iniciativa, para ser a esposa de Isaque. Ele sabia muito bem que o filho do seu senhor Abraão era um homem pacato e, por isso, necessitava de uma esposa dinâmica para complementá-lo. Precisamos reconhecer que as diferenças entre os cônjuges os tornam maiores e melhores. E por isto devemos valorizar e incentivar as diferenças. John e Betty afirmam o seguinte: "Se estivéssemos começando novamente nosso casamento, nós nos comprometeríamos a fazer um esforço para reforçar as boas qualidades que nos fizeram escolher um ao outro" .3

A Correção dos Defeitos

Cada um de nós tem um lado melhor e um pior. Temos as nossas características que enriquecem o nosso casamento. Mas temos também os nossos defeitos. As características devem ser reconhecidas e valorizadas, mas os defeitos devem ser corrigidos.

No encerramento de um encontro para melhorar o casamento, uma senhora declarou: "... aprendi que não devo mais tentar fazer com que meu marido mude.

Procurei modificá-lo durante 30 anos e de nada adiantou. Sei agora que preciso amá-lo e aceitá-lo como é".4 A conclusão a que chegou esta senhora tem verdades e equívocos. É verdade que precisamos aceitar o nosso cônjuge como ele é. É verdade que somos tentados a bancar o Criador e recriar o nosso cônjuge à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e isto não está correto.

É verdade também que, ao tentar modificar o nosso cônjuge, nós o estamos rejeitando.

Mas, por outro lado, é verdade também que um dos objetivos do casamento é a ajuda mutua. E isto implica também ajudar o nosso cônjuge a corrigir os seus defeitos. Nenhum cônjuge pode mudar o outro. Mas pode e deve ajudá-lo a corrigir os seus defeitos.

Existem orientações que devemos seguir para ajudar o nosso cônjuge a corrigir seus defeitos. Algumas apontam o que não devemos fazer, outras o que devemos fazer.

Aqui estão algumas dessas orientações:

1a) Não ser um caçador de defeitos - Se começarmos a procurar defeitos no nosso cônjuge, vamos encontrá-los em abundância, pois todos os seres humanos são imperfeitos. Em vez de procurá-los, devemos deixar que eles aflorem naturalmente.

2a) Não confrontar o cônjuge com os seus defeitos - Ninguém gosta de ser confrontado com os seus defeitos. E quando isto acontece, a tendência natural é a autodefesa. John e Betty contam o seguinte fato; Depois da lua-de-mel, o recém-casado pergunta à esposa: "Querida, você se importa se lhe falar sobre alguns pequenos defeitos seus?".

"De modo algum", respondeu a jovem esposa.

"Foram justamente esses defeitinhos que me impediram de conseguir um marido melhor, querido."5

3a) Não criticar o cônjuge - A crítica cria ressentimentos e mágoas. Quando criticado, o cônjuge se fecha ou responde asperamente.

O preletor de um congresso contou - talvez a título de brincadeira, para tornar o ambiente menos tenso - que certo dia disse à esposa: "Querida, eu não entendo por que Deus fez você tão bonita, mas também tão burra". Ela respondeu: "Pois eu entendo muito bem: Deus me fez tão bonita para que você se casasse comigo; e tão burra para que eu me casasse com você". Esta brincadeira ilustra a maneira como as pessoas costumam reagir diante da crítica.

Lembre-se que a crítica não conserta ninguém.

4a) Não ressaltar o defeito a ser corrigido - William James, psicólogo norte-americano, presbiteriano, afirmou que não se corrige um mau hábito falando sobre ele. "Quanto menos se fale nele, tanto melhor".6

5a) Procurar levar o cônjuge a se conscientizar das más consequências de seus defeitos - O ser humano só abandona um hábito quando se conscientiza de que aquele hábito vai lhe trazer consequências desagradáveis. Por isso, leve o seu cônjuge a se conscientizar das más consequências de seu defeito.

6a) Colocar um bom hábito para substituir o defeito - William James afirmou que "para poder eliminar um mau hábito, é preciso substituí-lo por um bom, concentrando-se em sua formação".7

Vamos a um exemplo prático: se o seu cônjuge tem o defeito de mentir, você pode propor-lhe o seguinte: "Vamos estabelecer a meta de falar sempre a verdade, custe o que custar?".

7a) Anime o seu cônjuge no processo de corrigir-se até que ele se ter retrocessos.

Por isso, o cônjuge precisa de votos de confiança e palavras de ânimo durante esse processo.

8a) O ponto de partida para ajudar o cônjuge a se corrigir é este: CORRIJA OS SEUS PRÓPRIOS DEFEITOS - Poucas coisas irritam tanto como a atitude de uma pessoa cheia de defeitos tentando levar outros a se corrigirem. "Por que é que você olha o cisco que está no olho do seu irmão e não vê o pedaço de madeira que está no seu próprio olho? Como pode dizer ao seu irmão: deixa-me tirar esse cisco do seu olho, quando você tem um pedaço de madeira no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro o pedaço de madeira que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão"8 (Mateus 7.3-5).

A melhor maneira de ajudar o cônjuge a corrigir seus defeitos é VOCÊ CORRIGIR OS SEUS PRÓPRIOS DEFEITOS.

Conclusão

O casamento une duas pessoas com características diferentes. Uma tem o que falta na outra. Por isso, as características devem ser valorizadas e respeitadas.

Mas as pessoas também têm defeitos. E estes devem ser identificados e corrigidos.

Ninguém pode mudar o outro. Só a própria pessoa é que pode mudar-se a si mesma. Mas, para corrigir-se, o cônjuge necessita de ajuda. E esta deve ser dada com amor, compreensão e habilidade.

Quando há comunhão entre o casal, marido e mulher se tornam cada dia mais parecidos, porque um cede ao outro as qualidades de que necessita para ser melhor. E é assim que se modificam: não tirando, mas acrescentando, somando.

Para Refletir

"Quando o marido e mulher olham as coisas de pontos de vista diferentes, isso pode ajudar muito, pois dá uma perspectiva mais ampla".9

1 John & Betty Drescher, Começar de Novo, p. 46 e 47
2 John & Betty Drescher, op. cit., p. 46
3 John & Betty Drescher, op. cit, p. 34
4 John & Betty Drescher, op. cit., p. 45
5 John & Betty Drescher, op. cit, p. 45
6 António Vieira de Carvalho - Treinamento dos Recursos Humanos - IOB -
Tomo 2 - p. 9 7 António Vieira de Carvalho, op. Cit,, p. 9
8 Bíblia na Linguagem de Hoje
9 John & Betty Drescher, op. cit., p. 36

Adão Carlos Nascimento - Oficina do Casamento | 2014-01-14 07:28:34





Opinião

O evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida. [João Calvino]