Fé na fronteira

“É um lugar muito perigoso, mas nós estamos sob a proteção do Senhor”

A crescente violência cancelou as tradicionais expedições missionárias de curto prazo ao longo da fronteira entre Estados Unidos e México. Juarez, três quilômetros ao sul de El Paso, Texas, é um destino muito popular para missões entre as igrejas americanas. Mas uma violenta guerra entre cartéis de droga tem modificado a cidade de um milhão e meio de habitantes. De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos , mais de 1.800 pessoas foram assassinadas em Juarez desde Janeiro de 2008.

Juarez, Tijuana, e Nogales têm passado por já famosos tiroteios.

A YouthWorks, uma organização missionária de âmbito nacional, anunciou que ela não fará viagens de verão ao México em 2009.

Através de um memorando, o diretor nacional Jason Atkinson disse que a decisão veio depois de uma discussão com moradores locais sobre o “princípio geral de ilegalidade”, nas comunidades mexicanas onde a comunidade serve.

“Ministérios parceiros receberam ameaças de extorsão”, disse Atkinson no memorando. “Nossa própria equipe foi vítima de assalto à mão armada e de roubo de carro”.

A Primeira Igreja Batista de Arlington, Texas, cancelou a Missão Juarez e a Missão Médica Acuna. “É a primeira vez em 30 anos que eles não enviam pessoas a Juarez”, disse o líder Peggy Kulesz.

“Nós criamos um grande vínculo com Juarez”, ele disse. “Nós os visitamos ano após ano, e vemos as crianças crescerem. Nós conhecemos aquelas famílias”.

A situação no México deixou os missionários procurando respostas.

“Quando você sente uma compreensão real do chamado, e depois as portas são fechadas”, disse Kulesz, “você quer saber o que você está incumbido de fazer, e saber o que Deus tem de reserva e como ele vai trabalhar nesses tempos de crise com os cristãos nessa área”.

Nem todas as viagens foram canceladas. A Life-Light, uma organização evangelística não-denominacional, não autorizou nenhum menor de 21 anos a viajar a Juarez em Março, mas ainda assim foi chamada a encorajar outros cristãos. O ministério encontrou uma Juarez diferente dos anos anteriores, disse Joseph Brewer, diretor de missões e projetos, com a presença da Polícia Federal Mexicana e de soldados, e com um constante medo entre os cidadãos.

“É um lugar muito perigoso, mas nós estamos sob a proteção do Senhor”, falou Brewer, “mas eu queria fazer com que os cristãos de Juarez soubessem que eles não estão abandonados pelo Senhor ou pelos seus missionários”.

Nos anos anteriores, a LifeLight encontrou regularmente outras equipes de missionários. Eles encontraram apenas uma equipe na expedição de Março desse ano, ele disse.

Essa equipe era da Casas por Cristo, um ministério não-denominacinal que compra casas no México. Brittany Girle, coordenadora de equipe, disse que a organização compra casas semanalmente. A equipe evita áreas perigosas de Juarez e não sai à noite, mas Girle diz que a Juarez que ela conhece é diferente daquela mostrada nos noticiários.

“Apesar da violência, Juarez ainda é uma grande cidade com pessoas vivendo suas vidas diárias”, Girle comentou.

As poucas equipes missionárias em 2009 provavelmente não terão um efeito negativo sobre as igrejas de Juarez.

Howard Culbertson, professor de missões e evangelismo mundial da Southwestern Nazarene University, diz que, às vezes, a “extrema superabundância de trabalhos à curto prazo… criou uma dependência deles e de seus fundos”.

“Eu até ouvi alguns casos em que igrejas de Juarez não estavam certas do que fazer com tantas equipes vindo ao seu encontro; eles tiveram paredes repintadas que tinham sido pintadas semanas antes por um grupo, e meses antes por outro grupo”, disse Culberston.

Robert Priest, diretor de estudos interculturais do programa de doutorado da Trinity Evangelical Divinity School, disse que enquanto as missões à curto prazo “tendem a ser um risco adverso”, as missões de longo tempo podem ter sucesso em lugares de risco como Juarez. Sob as circunstâncias corretas, esses grupos podem trazer ajuda, disse Priest, como a Igreja Presbiteriana fez com os cristãos da Colômbia, um país que experimentou a violência envolvendo cartéis de drogas.

Os habitantes locais se mantêm otimistas de que os cristãos vão ter sucesso apesar da violência.

Joe Borntreger, pastor da Igreja Jesus Cristo Es El Respuesta, em Juarez, diz que ao mesmo tempo em que vê um declínio de missionários estrangeiros desde o último ano, sua igreja recebe equipes de missionários toda semana nas férias de primavera. Ele também disse que a frequência da igreja aumentou na mesma proporção da violência.

“Nós temos mais pessoas procurando pelo Senhor”, disse Borntreger, “as pessoas estão mais abertas para receber o evangelho”.

Apesar da violência em algumas partes de Juarez. Borntreger diz estar corajoso. “Se nós formos tomados pelo medo, o que será? Nós precisamos estar firmes no Senhor”, ele disse. “Nós acreditamos que estamos na vontade de Deus, e nós não estamos apavorados. O lugar mais seguro para se estar é no centro da vontade de Deus”.

C. L. Lopez - cristianismohoje.com.br | 2009-07-03 11:23:41





Opinião

O evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida. [João Calvino]