O príncipe e os mendigos

Spurgeon ainda é conhecido como "O príncipe dos pregadores".

O site da wikipedia [1] em inglês refere-se a Charles Spurgeon (1834 – 1892) como alguém de grande influência entre os cristãos reformados ou de diferentes denominaçções, dentre as quais ele ainda é conhecido como "O príncipe dos pregadores". Lendo alguns dos seus sermões, torna-se difícil discordar disto. A influência de Spurgeon sobre os reformados é enorme, e a forma como Deus o usou em cada mensagem pregada, especialmente em um contexto de muita pompa e pouca unção, faz dele um príncipe entre os pregadores.

Eram três da manhã e minha dificuldade em dormir me deixava um tanto desconfortável. Eu havia acabado de ler um excelente livro [2] e, meio que tomado pelo tédio após alguns minutos sem fazer nada, olhei para a escrivaninha do outro lado do quarto, talvez em busca de algo interessante. Meus olhos foram atraídos por aquele livro branco que estava sob outros quatro ou cinco livros – estava na hora de lê-lo.

A capa branca trazia em letras grandes o título do livro: "O Spurgeon que foi esquecido". Com a leitura de poucas páginas percebi que nesta semana (31 de janeiro) completam-se 115 anos da morte deste grande pregador.

Ao ler algumas páginas e pensar sobre o conteúdo do livro, lembrei-me de meu primeiro contato com Spurgeon. Eu tinha 16 anos de idade e havia decidido investir em leitura. Logo no primeiro mês [3] de minha decisão neste sentido li um sermão dele publicado, cujo título era Eleição [4]. Confesso não ter dado muita atenção. Hoje penso que eu não entendi o que eu li, afinal de contas. Apenas dois meses depois eu reli o mesmo material, e quanta diferença pude sentir! Desta vez eu entendi cada palavra da mensagem, e como fui confortado diante das verdades ali proclamadas.

Desde então foram lidos alguns livros [5], como "Sermões sobre salvação", "Sermões do ano de avivamento", "A figueira murcha", "Conselhos para os obreiros", "Pescadores de crianças", e, minha última aquisição, "Verdades chamadas calvinistas – uma defesa".

O título do livro que estou lendo - o da capa branca - revela uma triste verdade. Como atesta Iain Murray, algumas pessoas lembram de Spurgeon. Para falar a verdade, ele ainda é bastante respeitado diante de muitas igrejas cristãs. Contudo, o Spurgeon lembrado e respeitado é aquele modificado para se acomodar aos nossos padrões atuais. Não queremos lembrar do príncipe dos pregadores como ele de fato foi. Não queremos lembrar do seu calvinismo, sua teologia foi esquecida por nós. Não queremos lembrar de sua autenticidade, estamos muito preocupados em agradar. Não queremos lembrar de suas polêmicas e controvérsias nas quais se envolveu, porque não estamos tão solidamente firmados em nossas doutrinas (se é que as conhecemos).

Spurgeon foi esquecido, e com ele foram esquecidos grandes pontos da fé cristã. O príncipe e seus princípios foram deixados de lado e, em decorrência disto, restaram apenas mendigos espirituais, que ainda não descobriram as riquezas da Graça e da Palavra de Deus.

Que neste aniversário de sua morte possamos compreender o verdadeiro Spurgeon. Sejam estes dias em que ele seja lembrado, para o nosso crescimento, e para a glória de Deus.

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[1] http://en.wikipedia.org/wiki/Charles_Spurgeon

[2] CRESPIN, Jean. A tragédia da Guanabara: a história dos primeiros mártires do Cristianismo no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. – Excelente mesmo! Recomendo a todos.

[3] Janeiro de 2002.

[4] Eu havia decidido estudar um pouco sobre eleição e predestinação.

[5]Muito material de Spurgeon pode ser encontrado no site http://www.monergismo.com. Basta colocar o seu nome na busca por autor, que muitos sermões serão encontrados.

Allen Porto - | 2007-02-02 03:26:25





Opinião

O evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida. [João Calvino]