Desmascarando o mito da “destruidora de lares”.

Ao culparmos apenas as mulheres pelos pecados sexuais, reduzimos os homens a animais, incapazes de discernir o certo do errado e de controlar seus instintos e comportamentos.

Há um grande número de mulheres sedutoras na literatura clássica. A mais irresistível de todas elas talvez seja Katie Scarlett O’ Hara, a protagonista vivaz e impetuosa do clássico “E o Vento Levou”. Seu charme era tão irresistível, que os homens se aglomeravam a sua volta, independente de serem comprometidos ou não.

Quando era ainda menina, não conseguia entender direito a afeição que Scarlett nutria pelo personagem de Ashley Wilkes, um homem sem personalidade e covarde. Agora, no entanto, com o recente bafafá a respeito da traição da atriz americana Kristen Stewart (da série “Crepúsculo”) com o diretor do filme “Branca de Neve e o Caçador”, Rupert Sanders, que é casado e tem filhos, passei a enxergar os personagens de “E o Vento Levou” sob uma nova perspectiva. Quando uma famosa revista americana divulgou fotos da atriz e do diretor se beijando em cenas íntimas, a mídia jogou a maior parte da culpa nos ombros da jovem atriz de 22 anos, praticamente ignorando Sanders, que tem quase o dobro de sua idade.

Em um único momento de “indiscrição”, que deixou seu então namorado, Robert Pattinson arrasado, Kristen ultrapassou Angelina Jolie na posição de “a mulher mais odiada de Hollywood”. No entanto, nenhuma acusação foi dirigida a Rupert Sanders, um homem casado de 41 anos de idade.

Por mais trivial que os relacionamentos das celebridades sejam, acredito que a reação das pessoas diante do caso diz algo importante a respeito da visão que temos, tanto dos homens, quanto das mulheres.
Não é nenhuma novidade culpar as mulheres por transgressões sexuais. Estudos mostram que em casos de estupro, ambos os sexos as consideram responsáveis. Apesar de a maioria dos pedófilos serem homens, muitas mães são responsabilizadas pelo crime quando ele acontece. Há aqueles que acreditam que a causa de muitos cristãos cometerem pecados sexuais está na maneira inapropriada em que determinadas mulheres se vestem.

Essa interpretação de “culpa das mulheres” está enraizada nas percepções negativas que temos da identidade e do corpo feminino. Mas acredito que nossa visão dos homens é igualmente problemática: ao culparmos apenas as mulheres pelos pecados sexuais, reduzimos os homens a animais, incapazes de discernir o certo do errado e de controlar seus instintos e comportamentos. Apesar de não afirmarmos explicitamente que Rupert Sanders (e até mesmo Brad Pitt, no caso em que traiu sua então esposa, Jennifer Aniston com a atriz Angelina Jolie) não tem culpa no caso, sugerimos isso quando chamamos “a outra” de “destruidora de lares”. O homem em questão não participou igualmente na “destruição” de seu próprio lar?

Não estou sugerindo que as mulheres não tem sua parcela de culpa em situações de transgressões sexuais. Mesmo nos casos que envolvem um homem mais velho com uma garota jovem, como Rupert e Kristen, a mulher tem livre arbítrio e deve ser responsabilizada por seus atos. Minha sugestão, no entanto, é que observemos mais atentamente a forma como nossas atitudes diante de fatos como esse, mostram a visão que temos a respeito de caráter cristão e virtude. Ao focarmos na mulher, estamos dizendo que a culpa, o epicentro do mal, é algo que está externo ao homem, e não dentro de seu coração e caráter. Dessa forma, buscamos soluções externas para problemas internos.

Na cultura atual, os adolescentes têm acesso a contraceptivos, pornografia e ao álcool, mesmo dentro de casa. Nos círculos cristãos, a preocupação está muitas vezes centrada na modéstia e na responsabilidade. Porém, o foco de nossa preocupação deveria ser a tentativa de mostrarmos a nossos filhos que as indiscrições sexuais e as perversões de qualquer tipo são substitutos doentios dos prazeres da intimidade verdadeira. Não me entenda mal. Como 1 Timóteo nos mostra, a modéstia e a responsabilidade são extremamente importantes para a vida da igreja. Eu desejo que minhas filhas tenham modéstia à medida que se desenvolvem sexualmente. Porém, mais do que me assegurar de que o comprimento de suas saias e vestidos está apropriado, quero que elas sejam o tipo de pessoas que sequer se imaginam vestindo algo diferente, pois seus corações foram moldados de acordo com a virtude.

Acredito que nos concentramos na aparência exterior porque fazer isso é mais fácil do que mudar nosso caráter. O caminho da santidade é notoriamente estreito e árduo, já que para remodelar nossa alma, precisamos matar nossos desejos diariamente.
O que me traz de volta à minha admiração pelo personagem de Ashley Wilkes, de “E o Vento Levou”. Quando Scarlett se aproxima dele para seduzi-lo, dizendo: “Vamos fugir. Você sabe que não ama sua mulher. Nada nos impede”, ele resiste e responde: “Nada exceto a honra. Amo sua coragem e teimosia. Tanto que poderia ter esquecido e deixado a melhor esposa que um homem pode ter. Mas Scarlett, eu não farei isso”. Com a força de seu caráter virtuoso, Ashley resiste à tentação.

Muitos cristãos acreditam que devemos lutar contra os desejos e comportamentos que nos parecem “naturais”. Mas vivemos em uma cultura que prega que os nossos desejos naturais – principalmente os sexuais -- devem ser celebrados e saciados, e não reprimidos, pois isso não seria “saudável”. É por isso que nossas soluções para problemas como a imoralidade sexual não podem ser apenas externas, focadas nas aparências. Ao pregarmos sobre mudanças comportamentais, como a modéstia no vestir e a fidelidade no casamento, como cristãos, precisamos enfatizar as transformações espirituais de todas as pessoas, homens e mulheres, à semelhança de Cristo.

Traduzido por Julia Ramalho

Halee Gray Scott - Cristianismo Hoje / icrvb.com | 2012-10-24 08:54:27





Opinião

O evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida. [João Calvino]