Novo método de detecção e vigilância de vetores do vírus da dengue é testado

Os resultados indicam que essa pode ser uma estratégia promissora na detecção e prevenção de explosões populacionais de vetores de Aedes aegypti.

“Como uma vacina ainda não está disponível, prevenir um crescimento repentino da população de vetores é a única forma de evitar aumento da transmissão da dengue”. A afirmação foi feita por pesquisadores da Fiocruz Pernambuco, da Escola Nacional de Saúde Pública, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da Secretaria de Saúde do Recife e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em artigo recém-publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Baseados nessa premissa, os cientistas desenvolveram um novo método de detecção e vigilância do mosquito transmissor da dengue a partir da coleta permanente de ovos do inseto e avaliaram seu uso em diferentes áreas urbanas do Recife, segunda região a apresentar mais casos de doença no país.

O novo sistema de captura, baseado no modelo convencional, é constituído por um copo plástico preto, preenchido com uma infusão de grama diluída em água, com três raquetes de madeira verticalmente fixadas com grampos em sua parede interna – que servem como um suporte para o depósito de ovos pelos mosquitos. Além disso, houve a adição na infusão de um inseticida comercial composto pela bactéria Bacillus thuringienses israelensis (Bti), utilizada no controle do Aedes aegypti. Os pesquisadores constataram que mais ovos foram depositados na presença da Bti, que não reduziu a atratividade de fêmeas grávidas do mosquito e funcionou como um larvicida, removendo os riscos de transformar os copos em locais de desenvolvimento do vetor. “A coleta massiva efetuada em um dos locais preveniu uma explosão populacional”, apontam os especialistas. “Os resultados indicam que essa pode ser uma estratégia promissora na detecção e prevenção de explosões populacionais de vetores de Aedes aegypti.”

Para a análise da eficácia do novo sistema, foram realizados 13 ciclos de coleta de duração de quatro semanas, iniciados em abril de 2004, em cinco localidades diversas do Recife. “As coletas contínuas renderam mais de quatro milhões de ovos depositados em 464 armadilhas-sentinela”, comentam os estudiosos, que acrescentam que o índice geral positivo de capturas foi de 98,5%. “A contagem de ovos tornou possível a identificação de pontos onde a população do vetor é consistentemente concentrada durante o tempo, determinando áreas que devem ser consideradas como de alta prioridade para atividades de controle”.

De acordo com os especialistas, o menor número de ovos foi verificado no mês de dezembro (2004), enquanto os picos de atividade reprodutiva do mosquito ocorreram em junho/julho (2004) e março de 2005. “Flutuações na densidade populacional foram observadas durante o tempo, particularmente um notável aumento a partir de janeiro”, destacam os pesquisadores, que acrescentam: “pontos de infestação foram detectados em algumas estações de amostras durante todo o estudo, independente do período de maior ou menor atividade.” Eles ainda explicam que as ações de controle do vetor não devem ser isoladas e que devem contar com o comprometimento de toda a população. “A participação da comunidade em programas de controle é essencial para reduzir o número de locais potencias de proliferação do Ae. aegypti. Infelizmente, um envolvimento bem estruturado da comunidade ‘é mais difícil de estabelecer e manter em sociedades com uma cultura forte de individualismo’”.

Renata Moehlecke - fiocruz.br | 2008-03-20 03:34:09





Opinião

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