Onde estão os homens cristãos solteiros?

A falta de homens solteiros nas igrejas tem surgido como um problema importante na questão dos relacionamentos cristãos. Veja o ponto de vista de dois observadores experientes e algumas sugestões para lidar com esta realidade.

Por Camerin Courtney e Todd Hertz

Existem inúmeras questões delicadas relacionadas à vida de cristãos solteiros: qual o modelo mais apropriado para o namoro e os relacionamentos? A castidade é uma realidade para adultos solteiros? Por que algumas congregações têm fracassado em integrar os solteiros na vida da igreja? Não podemos lidar com todas estas questões aqui. Mas existe uma questão prática que se sobressai neste momento: Onde estão todos os homens? Estatisticamente a diferença entre a quantidade de mulheres e homens na igreja é alarmante. Em um trecho do livro The UnGuide to Dating, os autores Camerin Courtney e Todd Hertz avaliam esta problemática delicada.

A descoberta
Camerin: Algo está quebrado. Não sei exatamente o que é ou como consertar, o que me deixa muito chateada. Só sei que algo está evidentemente incorreto nesta história. Veja: recentemente fui a uma conferência no Leste europeu com pessoas que trabalham em revistas cristãs para mulheres. Eu, como amante e admiradora de pessoas de outras culturas, estava no céu. A cada refeição, intervalo ou horário de lazer eu podia fazer uma de minhas perguntas preferidas: “Como é a vida no seu cantinho do mundo?”
Mas com certeza não falei para ninguém que sou escritora de uma coluna para solteiros. Alguns deles nem sabiam que sou solteira, que tenho mais de 30 anos de idade e que nunca me casei; e tenho amigas no mesmo barco (algumas delas em barcos mais velhos do que o meu).
Minha primeira conversa na conferência foi com uma simpática russa de 40 anos, e aconteceu mais ou menos assim:
Eu: “Então, quais são os maiores desafios enfrentados pelas mulheres cristãs na Rússia?”
Galina: “Temos mulheres inteligentes e maravilhosas solteiras em nossas igrejas. Mas não há homens para elas.”
Eu (com uma voz que misturava depressão e empatia): “Sério?”
Galina: “Sim. é muito triste. Muitas delas viajam aos Estados Unidos para procurar um marido.”
Eu (com toda a minha doçura e sensibilidade cultural): “Bom, então diga a elas para entrarem na fila.”
Em seguida tive uma conversa com duas moças da Bulgária que pintaram um retrato similar sobre as mulheres cristãs que não tinham homens cristãos para formares seus pares.
No almoço do dia seguinte, alguém perguntou se eu tinha filhos e então respondi: “Não, não sou casada.” Uma moça solteira de 38 anos vinda da Grécia desabafou: “Ah, isso faz com que eu me sinta muito melhor!” Ela também compartilhou sobre o que parece ser uma geração de falta de homens solteiros em seu país. O mesmo disse a moça da Malásia que se casou aos 29 anos, o que em sua cultura é considerada uma idade avançada.
Enquanto uma parte de mim se alegrava com este compartilhar e a compreensão da minha realidade, também fiquei deprimida com o fato de que esta aparente inquietação na vida das solteiras é algo global. Como eu já disse, algo está quebrado.

Chuva de homens? Não...
Antes de tudo, permita-me deixar uma coisa bem clara: sei que existem homens de Deus, solteiros, ao redor do mundo. Sou amiga de alguns deles e namorei outros. E, sim, existem jardins privilegiados onde existe uma porcentagem de 50% de homens e a mesma proporção de mulheres; e há alguns em que os homens até podem ser maioria. Durante uma viagem recente a trabalho, visitei uma igreja que tinha este perfil.
No universo parece haver muito mais mulheres cristãs solteiras do que homens cristãos solteiros. Minha própria experiência afirma esta verdade. Em quase todas as igrejas, estudos bíblicos, grupos de solteiros e locais de trabalho cristãos dos quais já participei ao longo dos anos continham um número significativo de mulheres solteiras e era notável (e frustrante) o reduzido número de homens. A maioria das pessoas que compõem meu círculo de amigos é de mulheres de Deus.
E não estou brincando quando digo que há alguns anos, quando eu fazia parte de um grupo da Aliança Bíblica Universitária (em minha universidade não-cristã), um de nossos pedidos de oração recorrentes era que mais homens se juntassem à nossa comunidade (para benefício deles e nosso também!).
Sempre que sai o novo informativo do escritório cristão onde trabalho, existe uma lista imensa de funcionárias de mulheres solteiras. Em evidente contraste, posso contar nas mãos o número de homens solteiros em nossa empresa, dentre os 150 funcionários.
Geralmente brinco com Todd, o co-autor do livro, que, por fazer parte do gênero masculino, ele tem um leque de pretendentes a sua frente para escolher. Em compensação, eu preciso lamentar o fato de que permaneço sem opções.
Todd: Quando Camerin me falou sobre sua teoria de que eu tinha um leque de opções e ela não, não dei a devida atenção. Pensei que ela estivesse sentindo pena de si mesma. Achei que estivesse exagerando. Eu pensava: Imagine! O contrário é que é verdade! Não há mulheres cristãs suficientes no mundo.
Então vi uma pesquisa, feita pelo grupo Barna em 2000, que constatou que 60% das seguidoras do cristianismo são mulheres. A pesquisa também observou o número de pessoas de cada gênero que se identifica como cristãos ‘nascidos de novo’. Baseado nos resultados, Barna estima que existem de 11 a 13 milhões de mulheres cristãs a mais do que homens nos Estados Unidos.
O mais impressionante não é apenas a disparidade entre os gêneros no grupo de cristãos, e sim a diferença entre homens que acreditam em Deus e aqueles que realmente procuram viver baseados no que crêem. Segundo a pesquisa, apesar de 36% dos homens terem se identificado como cristãos ‘nascidos de novo’, apenas 14% freqüentam a escola dominical, 13% pertencem a um pequeno grupo e somente 9% servem na igreja em alguma posição de liderança. Em todas as categorias as porcentagens foram muito maiores para o grupo das mulheres.
Isto me obrigou a reconsiderar honestamente o que eu havia concluído. Sou o único homem solteiro entre 25 e 45 anos que regularmente freqüenta a minha (grande) igreja. Trabalhar para um escritório cristão abriu ainda mais meus olhos. Assim como Camerin mencionou, existem cinco ou seis homens em nosso escritório e posso contar pelo menos o triplo de mulheres solteiras.
E então temos outras provas: os e-mails. Como colunista para solteiros, Camerin recebe mensagens de mulheres que sofrem com a ausência de homens.
Estas mulheres possuem histórias tão detalhadas e convincentes que não tenho mais argumentos para negar os fatos. Existem menos homens ativos na igreja e, dependendo de onde você mora, a diferença pode ser ainda mais evidente.
Considere, por exemplo, este e-mail de uma mulher chamada Margaret: “Desde que me tornei cristã, nunca namorei. Simplesmente nunca me convidaram para sair. Por quê? Porque nossas igrejas e círculos cristãos estão repletos de mulheres e existe um vazio horrível no que diz respeito a homens solteiros em potencial. Não importa aonde eu vá: estudos bíblicos, igreja, grupos de solteiros: 90% são mulheres.”

Porque os homens evitam a igreja
Sim, a falta de homens solteiros em nossas igrejas é um péssimo fator para a equação dos namoros. Mas, obviamente, não é o maior problema. O maior problema é o fato de os homens solteiros não estarem nas igrejas. Honestamente, fico preocupado com meus irmãos cristãos. Por que estão menos ativos em sua fé? A relação com o Criador é realmente diferenciada quando falamos do nosso gênero?
Como disse Camerin, algo está quebrado. E não acho que seja algo fácil de ser identificado e nem que seja apenas um fator danificado. Imagino que existam diversas rachaduras por todos os lados, incluindo o papel cultural do nosso gênero, expectativas da sociedade e o formato de nossas igrejas.
Os homens geralmente não sabem quem deveriam ser. Mensagens dúbias e confusão de gênero podem estragar a todos nós, jovens homens solteiros. Sem uma direção clara, é fácil seguir o caminho errado.
Pense na cultura e no cristianismo como duas fachadas de loja na rua, uma ao lado da outra. As duas possuem sinais luminosos que anunciam suas ofertas. A cultura anuncia sexo, imprudência, álcool, gratificação instantânea e a ordem de não depender de ninguém a não ser de você mesmo.
Por outro lado, a fachada da igreja parece oferecer julgamento, regras e hinos. Como um bônus extra, existe o foco na família e uma visão sensível por parte da maioria de suas integrantes, as mulheres. Olhando por esta perspectiva, torna-se mais compreensível a razão pela qual tantos homens deixam a igreja após terminar o ensino médio e retornam apenas quando já estão casados, com famílias constituídas, um novo foco e maior maturidade emocional. Isto é, se eles retornam às igrejas.
Eles já cometeram seus atos insanos e imprudentes, aprenderam com os erros de suas escolhas e agora compreendem o que é verdadeiramente importante na vida, o que realmente vale a pena.
Muitos homens também usam um argumento para ficar fora da igreja, a pressão para ser algo que não são, ou seja: casados. Não, as coisas não aparentam estar bem por aqui. Admito que o problema com a falta dos homens ativos na igreja pode parecer desesperador. Homens na igreja podem pensar: Bom, se sou o único aqui, porque tenho que ficar aqui? Então as mulheres cristãs solteiras decidem desistir de uma vez e procurar pretendentes não-cristãos.

O que os homens podem fazer
Enquanto esta ampla visão cultural parece desanimadora, creio que há esperança. E esta esperança não está no foco da grande questão, e sim na fé individual. Cada um de nós, homens, precisa ter em mente o fortalecimento de nossa caminhada, buscar um mentor para caminhar junto e tornar-se participante ativo em sua igreja local.
O efeito colateral ideal desta mudança de foco seria que nos concentrássemos em dar o exemplo a outros homens e talvez começar a equilibrar as estatísticas desproporcionais de gênero em nossas igrejas. Mas, apesar desta perspectiva sobre namoro na igreja, ou até mesmo em como as igrejas olham para os solteiros, nós, homens, precisamos estabelecer um padrão de vida com Deus.

O que as mulheres podem fazer
Camerin: Quando eu estava naquela conferência internacional descobrindo esta falta universal de homens cristãos solteiros, orei silenciosamente após uma conversa: “Deus, obviamente estás revelando a mim uma questão importante. Por favor, não me deixe ficar parada. Não posso me sentar após tomar conhecimento desta questão e ficar frustrada. Preciso agir de alguma maneira. Quero fazer algo com esta informação.” Então estou fazendo o que sei fazer: estou escrevendo sobre o assunto. Digamos que eu esteja tentando despertar pessoas para o fato de que algo está errado. Buscando falar às igrejas, que observem e tenham como alvo esta população que falta em nosso convívio. E orando, desde aquela conferência, para que haja pleno avivamento entre os homens solteiros do mundo.
Acho que a oração é um dos melhores caminhos que as mulheres podem percorrer acerca deste tema. Uma mulher que escreveu uma carta em resposta a um de meus artigos, disse eloqüentemente: “Minha oração hoje é que mulheres de Deus comecem a orar por homens como jamais fizeram, não por motivação egoísta e sim com o desejo sincero de que nossos irmãos encontrem um lugar só deles na igreja, no ministério e talvez, apenas talvez, em nossos corações.”

Camerin Courtney é conhecida articulista do portal christiansinglestoday.com (Cristãos solteiros de hoje). Todd Hertz é editor associado da revista Ignite Your Faith e contribui com artigos para o portal christiansinglestoday.com.

Este artigo foi adaptado do livro The UnGuide to Dating: A He Said/She Said on Relationships, ©2006. Usado com permissão da Revell Books, uma divisão de Baker Publishing Group.


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- | 2008-10-17 03:26:25





Opinião

O evangelho não é uma doutrina de língua, mas de vida. [João Calvino]